Se viemos dos macacos, por que ainda existem macacos?

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Ao digitar “evolução” no Google e pesquisar por imagens, infelizmente é apenas esse tipo de representação que aparece:

A interpretação mais intuitiva dessa imagem é que conforme o tempo passa, nós sofremos várias modificações para uma espécie “mais evoluída”, até finalmente chegar ao Homo sapiens, nome dado a nossa espécie.

Como pode ser observado na ilustração, diversas características se mantiveram ao longo do processo, como por exemplo o número de braços, pernas, pés, a posição dos olhos e das orelhas. Outras foram adquiridas de forma rápida –  como postura ereta e o bipedalismo (andar sobre apenas dois membros, como as pernas) – e outras se modificaram ao longo do tempo, como a quantidade de pelos no corpo, e o formato do rosto.

Com isso, quem se baseia na imagem conclui que, pela teoria da evolução, evoluímos de um macaco muito parecido com um chimpanzé, animais esses que ainda podemos ver na natureza e nos zoológicos. Daí surge a dúvida: se essa é a teoria da evolução, era de se esperar que todos os chimpanzés evoluíssem para humanos, e não tivéssemos mais macacos no planeta.

O grande problema da imagem é que ela é um recorte extremamente simples da nossa história evolutiva. Para melhor representar a origem das espécies utilizamos um cladograma:

cladograma

O cladograma nos ajuda a entender as relações evolutivas entre as espécies, ou seja, basicamente estudar quais são os seus “parentes” dentro da história evolutiva. Cada ramo representa uma espécie e cada separação, o último ancestral comum entre essas espécies.

Para entender um cladograma, podemos começar a partir de qualquer separação. Por exemplo, “F” é o último ancestral comum entre os orangotangos, gorilas, chimpanzés e humanos. Já a espécie “H” foi o último ancestral comum entre chimpanzés e humanos.

Isso não significa que “F” ou “H” eram humanos primitivos, ou um orangotango como conhecemos hoje, mas sim uma espécie que deu origem aos chimpanzés e humanos que conhecemos hoje, ele viveu há pelo menos 7 ou 8 milhões de anos, na África.

Antes de prosseguir com o raciocínio, vale chamar a atenção para o ancestral A. Reparem que mesmo parecendo uma única linha reta de “A” até o lêmure (de rabo rajado, mais à esquerda da figura), aproximadamente 40 milhões de anos se passaram entre essas duas espécies. Certamente o lêmure é muito diferente da espécie ancestral “A”. Além disso, diversas outras espécies surgiram entre A e o lêmure, mas esses galhos foram podados da imagem, para facilitar a visualização.

Mas então como surgem essas diferenças?

 Características são constantemente passadas dos pais para os descendentes. Tais características são hereditárias, enquanto outras características são fortemente influenciadas pelas condições ambientais e mostram fraca hereditariedade.

Se alguma variação der a esses indivíduos uma vantagem reprodutiva e também for hereditária, essa espécie terá uma alta taxa de crescimento populacional. Quanto mais indivíduos, maior a chance de manter a espécie fora do risco de extinção.

Indivíduos que possuem características adequadas para competir pelos recursos locais terão um sucesso reprodutivo maior, e contribuirão com mais descendentes para a próxima geração.

Se tem algo que a evolução precisa, é tempo. O isolamento geográfico também tem um peso muito grande na seleção natural das espécies. Isso é fácil de perceber quando observamos a variedade de espécies existentes nos diversos cantos do mundo. Vide a Austrália e seus ornitorrincos, e a nossa jabuticaba (apesar dela existir também na Argentina,  México, Bolívia, Peru e no Paraguai).

E pra onde foi o ancestral comum?

Os nossos ancestrais comuns em relação a outras espécies não existem mais, seja porque entraram em extinção, ou porque adquiriram tantas modificações que não podem ser mais considerados aquelas espécies ancestrais.

Quem nós somos?

Nós SOMOS macacos! Ou primatas, melhor dizendo. O termo macaco é muito abrangente. Só no Brasil temos aproximadamente 120 espécies de macaco.  Não é porque deixamos de ter algumas características dos outros primatas que deixamos de ser primatas. Uma análise comparativa entre humanos e bonobos revelou que compartilhamos 98,7% do mesmo mapa genético. Já em relação a chimpanzés, temos uma identidade genômica média de 98,07%.

É muito mais gratificante fazer parte (e ter partes) de outras espécies, do que ser uma espécie à parte num planetinha azul isolado no Universo. Além disso, se  uma outra espécie inteligente do universo chegasse na Terra e começasse a catalogar o que existe por aqui, provavelmente seríamos classificados como um tipo de bonobo ou chimpanzé, só que com altos níveis de ansiedade e um ego bem grande.

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Fonte: https://revistaquestaodeciencia.com.br/questionador-questionado/2018/12/12/se-o-ser-humano-evoluiu-dos-macacos-por-que-ainda-ha-macacos

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